"
Patins in-line
Em obstáculos nas ruas ou rampas, praticantes abusam da adrenalina
LEANDRO LAGEDa Redação
Urbano, moderno e radical. Apesar de pouco praticado no País, pelo menos em comparação a outros esportes radicais, o patins in-line se consagra cada vez mais entre os jovens paraenses chegados a desafios e com estilo próprio. Deslizar em corrimãos, pular escadarias e dar saldos mortais em half-pipes (as rampas em forma de 'U'). Essa é a desenvoltura dos patinadores, vorazes por liberdade e competidores por natureza.
O desprezo às regras e o excesso de estilo, no entanto, interrompem a popularização do patins in-line pelas ruas do Brasil. 'O in-line ainda não é reconhecido como esporte', diz Hugo Taichi, de 25 anos, patinador há mais de 12. 'Nem mesmo os praticantes enxergam essa realidade, pois a maioria não conhece as regras'. A modalidade aggressive in-line é aquela em que as rodas ficam dispostas em linha, sobre uma lâmina.
Hugo pratica o gênero Vertical. 'Atualmente, em Belém, a galera do patins se divide entre os que andam em rampas para competir, como eu, e os que preferem os obstáculos das ruas. Mas isso não significa que os patinadores não se misturem', explica. De acordo com a Associação Paraense de Patinação In-line, o esporte se destaca principalmente na capital e nos municípios de Castanhal, Tucuruí e Santa Isabel.
Três vezes campeão paraense de aggressive in-line, Hugo diz que não é só calçar as botas dos patins, subir nas rampas e fazer acrobacias à vontade. 'As provas têm dois juízes e, no final da performance dos competidores, eles avaliam e divulgam a pontuação, que vai de zero a dez', explica o patinador. Segundo Hugo, os competidores precisam ter estilo próprio, com manobras consistentes, criativas e de alto grau de dificuldade.
Velocidade, controle e equilíbrio. Para Fernando Albuquerque, de 25 anos, patinação significa liberdade. 'Fora das competições, todos podem andar como quiser. É um esporte em que cada um se expressa do seu jeito', diz. Assim como o skate, a patinação é um dos desportos adotados pelas tribos de rua, em que impera a coletividade. 'O importante, para a galera do patins, é o crescimento em grupo', diz Fernando.
Nas competições da associação, os cerca de 30 membros disputam em duas categorias: a primeira e a especial. Competem na primeira os patinadores menos experientes, normalmente mais novos. Já a categoria especial é terreno de conflito entre os patinadores mais habilidosos da região. Hugo é o primeiro no ranking e Fernando o segundo da lista.
A modalidade in-line surgiu no Brasil no início dos anos 1990. Antes, o gênero tradicional (de quatro rodas dispostas de duas em duas, paralelamente) era o mais praticado. Em Belém, o aggressive chegou mais ou menos na mesma época. 'O ‘boom’ mesmo foi em 1994, com a abertura da Roll’on (pista de patinação de aluguel). A febre durou até 1998, quando as fábricas internacionais passaram por uma crise', conta Fernando.
Hoje, os patinadores belenenses aguardam ansiosos pela conclusão das obras do Portal da Amazônia, que deve trazer o primeiro espaço destinado ao esporte em Belém, depois do extinto parque da avenida Duque de Caxias. Mas eles nunca se intimidaram com a falta de lugar. Servem quadras de escolas, ruas inclinadas, praças públicas e qualquer outro lugar que tenha espaço suficiente para a coragem.
Modalidade requer forte proteção
Só os nomes das manobras assustam: invert, rocket air, fishbrain. De patins nos pés, os limites têm outro sentido para os atletas. Hugo conta que já fez manobras bastante perigosas, que assustariam qualquer pessoa, com ou sem patins. 'Uma vez, em Santa Izabel, deslizei com o patins num corrimão extenso, que ficava a mais de seis metros de altura do chão', conta.
Os desafios a si mesmos rendem ossos quebrados e muitas visitas aos fisioterapeutas. 'Se não usar proteção, a pessoa se machuca muito', admite Hugo. Ao longo de sua história sobre as rodas enfileiradas, o patinador já quebrou a perna direita, torceu os dois pés e seu ombro desloca até hoje. 'Mas a primeira pergunta que me fazem é se já caí de pernas abertas no corrimão. Já aconteceu duas vezes. E dói bastante', brinca.
Fernando é outra vítima da ousadia. Está 'de molho' há alguns dias, depois de ter caído no half-pipe em que treina. 'Mesmo batido dá uma vontade enorme de andar. Ficar aqui só olhando os colegas causa até uma abistinência no esportista', brinca o patinador. Para começar a praticar, o equipamento de proteção inclue um capacete, joelheiras, cotoveleiras, munhequeiras, caneleiras e bermudões acolchoados.
Como em muitos casos, os equipamentos encarecem o esporte. O preço do material varia entre R$ 400 e R$ 2 mil, dependendo do tipo de patins. 'Um patins profissional, hoje, custa R$ 700 porque é comprado em dólar. Um básico até pode ser comprado por menos, mas só é bom no início. Quem anda a mais tempo não se adapta', diz Fernando.
Antes, se os patinadores da Cremação e Condor andavam nas ruas, entre os carros. Hoje, eles andam seguros, sobre o half-pipe da Associação Paraense de Patinação In-line. (L.L)"
Nota da AAGIL: na reportagem do "O Liberal" de 05.11.07 convencional há fotos muito legais onde figuram o Taichi, Cris e Ferlouco.