HÁ MENINAS ANDANDO AÍ E NÃO HÁ RANKING DELAS?
Uma amiga minha e da AAGIL, a Juliana Costa - Ju, jornalista, pessoa muito inteligente, observadora e preocupada com a organização do In line, ao receber informações sobre o encerramento do Campeonato Paraense 2006 percebeu, na foto que lhe mandei, que havia meninas usando patins, mas que nenhuma mulher constava do ranking. Perguntou-me, na linguagem coloquial que usamos em e-mails: “Há meninas andando aí e não há ranking delas?”
Ora, a Ju é pessoa pela qual tenho grande consideração, por isso não a deixaria sem resposta de jeito nenhum. Além disso, o questionamento dela é justo e oportuno pois, de fato, no in line paraense há meninas andando, mas elas não quiseram correr no campeonato, ainda. Fui então explicando para a Ju, meu entendimento da questão.
Primeiro,eu disse que essa é uma questão muito importante pois mesmo os rapazes, muitos preferem não participar das provas. Conversando com o Hugo “Taichi”, atual Campeão Paraense Street, Vice Campeão de Vertical e Melhor do Ano 2006, mais de 10 anos de experiência patinando nas ruas e praças de Belém _ PA, ele disse que há mais de 50 patinadores na grande Belém que poderiam disputar o paraense na Primeira Categoria de igual para igual com os atuais campeões. Mas no Paraense a média de participação nas duas categorias “Primeira” e “Especial” foi de quatro atletas por prova.
No caso das moças, expliquei, me parece visível a baixa auto estima delas relacionada a dúvidas sobre performance, sobre a capacidade de patinar bem. E os rapazes, familiares e amigos reforçam isso a cada momento. Então, elas mesmas não se vêem com valor suficiente para uma prova ainda. Além disso, é de se esperar que elas, como os rapazes, tenham incorporado, sem perceber, todos os preconceitos sobre patinação radical. Afinal, preconceitos são doenças sociais, de alguma forma atingem a todos.
Mas creio que elas sentem de modo não muito claro que estão permitindo que as lesem no direito de serem elas mesmas aqui e agora e que amanhã poderá ser diferente. A participação delas nas provas do Paraense ajudaria a afastar o fantasma da baixa auto estima. Mas elas não perceberam, ainda, esse efeito quase terapêutico da participação em campeonatos. Facilitar essa tomada de consciência é um dos trabalhos desenvolvidos pela AAGIL.
Neste ponto me pareceu conveniente citar e comentar rapidamente alguns dos fatos-problemas que identificamos durante as reflexões que antecederam a criação da AAGIL.
Carência de seriedade de atletas.
Um dos mais complicados, pois é elo de uma corrente que começa fora do in line e não se encerra no in line. Sabemos que é um problema arraigado e que é mantido, entre outras, pela desinformação ou mesmo pela ausência desta;
Desinteresse quanto a questões organizacionais.
De modo semelhante cionais. à carência de seriedade de atletas, falta um pouco dessa coisa de cidadania, coletivismo, crença na força do conjunto. Aquele negócio de viva o in line,
in line forever, é tudo superficial. Na hora de dar o sangue mesmo, neguinho pula fora. Mas há um núcleo que está sempre pronto para agir. É com este que procuramos trabalhar;
Deficiência na elaboração de calendário de eventos.
Resolvemos, parcialmente, em Belém e redondezas, mas o Estado é enorme, embora pouco habitado. Além disso, precisamos de calendários em outros estados. Só no Pará não vai adiantar muita coisa;
Deficiência na divulgação do esporte.
Aos poucos se resolve, depende um pouco do calendário e da disposição de fazer os
releases para imprensa grande e underground;
Carência de apoio aos atletas.
Bem, o ano passado uma empresa apoiou parcialmente o Campeonato, este ano o Governo do Pará apoiou com 20% das nossas necessidades. Saímos do zero. A solução depende do calendário, divulgação e de alguém disposto a ouvir milhões de nãos e de pegar muito chá de cadeira - não é minha praia;
Além desses temos ainda:
Carência de informação aos atletas;
Dificuldade financeira para adquirir materiais e equipamentos;
Deficiência na estrutura para evolução de atletas;
Deficiência no conhecimento técnico sobre como são feitas as
manobras;
Pouco conhecimento das regras de arbitragem;
Relação difícil entre atleta e família.
A minha conclusão foi no sentido de que patinadores homens e mulheres são, também, sujeitos desse quadro perverso e que, portanto, a ausência nas competições por parte das mulheres patinadoras e o baixo número de homens é conseqüência esperada daqueles problemas.
Mas nem tudo está perdido. Aos poucos as coisas vão se arrumando, bem lentamente. Dos oito que correram o ano passado passamos para 19 este ano.
Melhoramos, né?
Quer ver nossas fotos?:
http://ubbibr.fotolog.com/aagil
E aqui encerrei meu discurso.
18 novembro 2006
Postado por Fernando Rabelo de Souza às 5:02 PM 0 comentários
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